Brasília já foi cantada, lembrada e homenageada em diversos versos. Em poesia com rimas e prosa, desde artistas locais até os grandes nomes nacionais que por aqui passaram. E na poesia de cada um, a Capital Federal é única, de beleza infinita e desafiadora, épica e, ao mesmo tempo, íntima e tão pessoal. Para cada verso escrito sobre a cidade há uma realidade a ser explorada. Realidade que contagia e encanta.
O compêndio lírico de Brasília começa antes mesmo de sua inauguração, quando ainda era um imenso canteiro de obras sendo desbravado por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, a dupla de ouro da nossa Bossa Nova. Da visita surgiu a Sinfonia Alvorada e a constatação:
“No princípio era o ermo
Eram antigas solidões sem mágoa.
O altiplano, o infinito descampado
No princípio era o agreste:
O céu azul, a terra vermelho-pungente
E o verde triste do cerrado.
Eram antigas solidões banhadas
De mansos rios inocentes
Por entre as matas recortadas.
Não havia ninguém.”
[Vinícius de Moraes, Brasília, Sinfonia Alvorada]
A partir daí a cidade foi visitada e povoada por poetas. E cada um a seu modo, expressou um pouco do que viu e viveu nas ruas sem nome da capital.
A capital desbravada em verso.
Clarice Lispector é autora das reflexões mais filosóficas sobre a cidade. De talento extraordinário e inteligência desmedida, escreveu a prosa lírica mais bela e profunda já dedicada a Brasília. “Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil; eles ergueram o espanto deles, e deixaram o espanto inexplicado.” A quem deseja um dia conhecer a alma da cidade, leia o texto “Brasília: Esplendor”.
Djavan foi pioneiro em desbravar aquele que segundo Lúcio Costa é “o mar de Brasília”. Como todos que se assombram com a linha do horizonte riscada à altura do sexto andar dos blocos das superquadras, deixando todo o resto para o firmamento, o artista exclamou: “Céu de Brasília traço do arquiteto, gosto tanto dela assim”. [Djavan, Linha do Equador]
Já Caetano Veloso, traduziu a beleza daqui num gesto gentil de uma alma generosa que volta pra casa e canta: “Mas da próxima vez que eu for a Brasília eu trago uma flor do cerrado pra você.” [Caetano Veloso, Flor do Cerrado]
Crônicas da vida brasiliense.
O chão vermelho e árido de Brasília é fértil para a poesia. Dessa terra já brotaram poetas de todas as verves, talentos e discursos. Gente heterogênea como Nicolas Behr, Chico Alvin, Renato Russo e Cássia Eller, só para citar nomes.
Nos versos desses poetas, descobrimos como o amor acontece por aqui, tão sutil no cenário exótico da cidade:
“No centro de um planalto vazio
Como se fosse em qualquer lugar
Como se a vida fosse um perigo
Como se houvesse faca no ar
Como se fosse urgente e preciso
Como é preciso desabafar
Qualquer maneira de amar varia
E Léo e Bia souberam amar”
[Léo e Bia, Oswaldo Montenegro]
“Construíram uma casa há uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias, não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo ‘tá de recuperação”
[Eduardo e Mônica, Legião Urbana]
Crônicas espertas que traduzem o cotidiano, as crenças e ritos do brasiliense, explicando até o óbvio.
Brasília tem centros comerciais
Muitos porteiros e pessoas normais.
[Plebe Rude, Brasília]
“Nossa Senhora do Cerrado
Protetora dos pedestres
Que atravessam o eixão
Às seis horas da tarde
Fazei com que eu chegue são e salvo
Na casa da Noélia”
[Liga Tripa, Travessia do Eixão]
“Eu sei que o Havaí não é aqui, que o mar está longe daqui
Mas pra quê que eu quero o mar se tenho o lago pra mim”
[Natiruts, Surfista do Lago Paranoá]
“SQS, SHIS, SBS
Pra mim é tudo igual
SQN, SHIN, CLN
Vou dar uma descida na Comercial”
[Little Quail and The Mad Birds, Dezesseis]
Uma cidade impossível de não se apaixonar.
Quem aqui vivi ou quem aqui visita, vê um amor surgir, dessas paixões que roubam o coração. Quando se dão conta, já amam Brasília e logo querem voltar. E quando aqui ficam, fica um pouco deles também nesse lugar.
“Agora conheço
Sua geografia
A pele macia
Cidade morena
Teu sexo, teu lago
Tua simetria
Até qualquer dia
Te amo Brasília…”
[Alceu Valença, Te Amo Brasília]
“Enterrem meu coração
na areia do parquinho
da 415 sul
e deixem meu corpo
boiando
no paranoá”
[Nicolas Behr]
Veja outros artigos: